A China superpotência começa a mostrar sua cara. E ela não é das mais bonitas
Parece uma grande notícia para quem está cansado de ver os americanos dar sozinhos as cartas no planeta (e alguém não está?). Mas, a julgar por suas primeiras ações, a superpotência China não está lá muito preocupada em entrar para a história moderna pela porta da frente. Os chineses não têm grande apreço pela opinião pública. Não parecem se importar com as conseqüências do que fazem. E adoram esconder seus objetivos.
Por isso mesmo, ninguém sabe ao certo como a China se comportará quando chegar à liderança. A única certeza é que o país tem duas prioridades internacionais: evitar que a independência de Taiwan seja reconhecida e suprir suas (enormes) necessidades energéticas. A primeira prioridade tem sido moleza: em busca de acordos comerciais ou investimentos em infra-estrutura, muitos países africanos e latinos (Brasil inclusive) têm concordado em colocar a ilha rebelde no gelo. Para resolver a segunda, a China enfia o pé na lama. Em busca de minério de ferro, óleo ou madeira, os chineses saíram às compras, em todos os cantos do planeta, sem se preocupar com os detalhes – bobagens como poluição, aquecimento global ou a ficha do vendedor.
O petróleo é deles
A China só perde para os EUA em emissões de gases que causam o aquecimento global. É considerada a nação mais suja e poluída do planeta – Pequim recentemente teve de suspender as aulas após a poluição do ar atingir 414 numa escala de 500. Mas, enquanto o mundo inteiro promete investir em energias alternativas, os chineses vão em outro sentido. As importações de petróleo só crescem. Hoje, chegam a 45% do consumo. Em 2020, serão 60% – e estamos falando aqui do segundo maior consumidor de óleo do mundo.
Se você vive neste mundo, já deve saber que petróleo é um produto disputado. Suprir necessidades como as chinesas não é simples. É para resolver esse problema que o país tem se aliado a governos de índole duvidosa (não que a desculpa cole: o Japão importa 96% do petróleo que consome e nem por isso desfila com as piores figuras globais). O caso do Sudão é um bom exemplo. A comunidade internacional responsabiliza o governo local pelo genocídio de tribos não árabes no oeste do país. Já são 400 mil mortos e 2 milhões de refugiados – os números continuam crescendo. Mas qualquer tentativa de intervenção internacional é bloqueada pela China, para quem o conflito “é um assunto interno do Sudão”. Coincidência: o país é sede do maior investimento em petróleo que Pequim já fez no exterior. É de lá que saem 5% de todo o óleo que a China consome.
Governos africanos, aliás, adoram os chineses. O comércio entre eles chega a US$ 30 bilhões por ano e pelo menos 31 países já tiveram dívidas canceladas. O dinheiro chinês bancou linhas de trem, estádios e casas – uma parceria bem diferente dos financiamentos europeus e americanos, normalmente vinculados à saúde, educação ou redução da pobreza. “Os chineses não exigem reuniões sobre impactos ambientais, direitos humanos, corrupção. Eles fazem o serviço e não impõem grandes exigências”, disse Sahr Johnny, embaixador de Serra Leoa em Pequim, em entrevista ao Canal 4, da Inglaterra.
A China, por sua vez, também vê vantagens em trabalhar com parceiros desse tipo. Para cuidar dos próprios telhados de vidro, eles não se metem em “assuntos internos” chineses: poluição, execuções sumárias, corrupção. Uma mão lava a outra e ninguém reclama. Não que algum chinês ouvisse as reclamações – por lá, a internet, as universidades e a imprensa não são livres. Não há democracia.
Para muitos analistas, esse comportamento em relação à África dá o tom do que a China quer ser quando crescer: um Estado pragmático, baseado em ganhos econômicos, sem debates ideológicos ou princípios morais. É um modelo surpreendente. Superpotências, afinal, são líderes mundiais.
Moldam o planeta a sua imagem e semelhança. Têm dinheiro e força para fazer valer seus valores. A União Soviética, por exemplo, quis exportar o comunismo. Os EUA, a democracia e o liberalismo. Mas qual será o legado da China? Enriquecer a qualquer custo?
Não é necessariamente uma tragédia – pior que não ter ideologia é usá-la destrutivamente, como a Alemanha de Hitler. Mas, se um país se dispõe a atuar como protagonista no cenário mundial, é de esperar que traga junto algumas idéias. É do presidente americano Woodrow Wilson, por exemplo, a tese de que todos os países devem conviver harmoniosamente e se ajudar – o que hoje chamamos de comunidade internacional. É graças a esse princípio que existem organizações onde, ao menos em tese, nações resolvem diferenças e prestam auxílio umas às outras. Caso da ONU, do Banco Mundial, do FMI e da Organização Mundial do Comércio – dos poucos ambientes em que repúblicas frágeis derrotam as grandes potências (e isso acontece com frequência).
Não é necessariamente uma tragédia – pior que não ter ideologia é usá-la destrutivamente, como a Alemanha de Hitler. Mas, se um país se dispõe a atuar como protagonista no cenário mundial, é de esperar que traga junto algumas idéias. É do presidente americano Woodrow Wilson, por exemplo, a tese de que todos os países devem conviver harmoniosamente e se ajudar – o que hoje chamamos de comunidade internacional. É graças a esse princípio que existem organizações onde, ao menos em tese, nações resolvem diferenças e prestam auxílio umas às outras. Caso da ONU, do Banco Mundial, do FMI e da Organização Mundial do Comércio – dos poucos ambientes em que repúblicas frágeis derrotam as grandes potências (e isso acontece com frequência).
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